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Feliz melhor idade: chegar na velhice não é e não precisa ser um problema

Mesmo em um cenário complicado, com o alinhamento necessário, ter uma velhice positiva é uma possibilidade

POR ISMAEL ENCARNAÇÃO


A flacidez, o surgimento de rugas e os fios ficando cada vez mais prateados são características biológicas comuns da velhice. Com a influência social e midiática, há uma vasta propagação do envelhecimento como uma mazela e a sua associação à incapacidade, como uma fase ruim da vida.

Porém, mesmo diante de todas essas coisas, com cuidados e atenção, é possível chegar na melhor idade emanando saúde, em plena qualidade de vida e feliz. Para isso, existem profissionais capazes de auxiliar em diversas áreas, desmistificando a ideia da perda do elã vital com o início do ciclo.

O envelhecimento

Envelhecer é um processo que se inicia desde o nascimento. Pensar em ter qualidade de vida apenas acima dos cinquenta ou sessenta anos, já com o aparecimento de alguns problemas, acaba sendo a situação de muitas pessoas.

“A qualidade de vida é um efeito acumulativo. Ela vem da consequência de bons hábitos que ajudam a criar essa condição. Os hábitos considerados necessários para manter um envelhecimento ativo e saudável devem ser iniciados desde cedo, pois é mais fácil prevenir”, explica a gerontóloga Simone Fontenelle.

Porém, de acordo com a gerontóloga, ainda que não tenha havido o estímulo de bons hábitos no início da vida, buscá-los quando mais velhos ainda é uma boa alternativa. Com a criação desses hábitos, a longo prazo é possível envelhecer de maneira feliz e saudável.

Além disso, a família também tem um papel fundamental para que os idosos tenham uma velhice positiva. “Neste período, é importante ter comunicação com os familiares, mesmo virtualmente. Também é necessário acompanhar as necessidades da vida diária, com o incentivo de atividades que possam ser realizadas em casa, como o contato com a natureza, com animais, dentre outras atividades”, conta Fontenelle.

“A família é algo extremamente importante para mim. Ver meus filhos e meus netos reunidos me faz transbordar de felicidade. É algo sem tamanho. Ver todos bem é uma coisa que me faz bem. Me traz uma paz tremenda”, relata a aposentada Maria das Candeias.

O papel fisioterapêutico

As queixas de dores, o aparecimento de lesões e patologias da região da coluna são exemplos de associações comumente feitas aos idosos. “Esses problemas não são só ligados aos idosos. Observo muitos problemas de coluna que são comuns em quem trabalha muito tempo sentado, ainda mais agora, em home office. É algo ergonômico, da postura”, diz a fisioterapeuta Sarah Brandão.

Para envelhecer bem, inegavelmente são necessárias boas práticas. No caso da área óssea e física não seria diferente. “Para uma boa velhice, recomendo uma boa alimentação, beber bastante água. A água hidrata os músculos, os tendões e a coluna. Ela ajuda a nutrir todos os tecidos corporais”, recomenda Brandão.

Além disso, na alimentação, as verduras e frutas têm o seu papel contributivo à saúde humana. “Hoje, tem artigos científicos que comprovam que as verduras têm vitaminas e substâncias importantes para a prevenção de lesões”, revela a fisioterapeuta. Assim, é evidenciada uma das vantagens do consumo do alimento natural.

“Como fisioterapeuta pélvica, tenho visto muitos idosos com perda urinaria, sua grande maioria é feita de mulheres. Já em homens, tenho observado o câncer de próstata com mais frequência, o que leva a incontinência urinária e a disfunção erétil”, explica a fisioterapeuta pélvica Lucíola Graciose.

Em casos assim, de acordo com a profissional, depois de realizar uma avaliação, podem ser usados vários protocolos para o tratamento, tendo como objetivo o fortalecimento da musculatura do assoalho pélvico e o trabalho voltado à propriocepção da musculatura. Inclusive, a falta de exercícios pode provocar o enfraquecimento da musculatura pélvica, que resulta no desenvolvimento de algumas doenças da região.

“Dentro da fisioterapia podemos utilizar de exercícios realizados em consultório, buscando sempre levá-los para a realidade e rotina dos idosos. Portanto, ao lavar a louça ou assistir televisão, o idoso pode realizar movimentos de contração e relaxamento, que ajudam em casos de reabilitação, por exemplo”, explica Graciose.

E os cuidados com a saúde mental?

“Nas clínicas de psicologia, um dos problemas mais vistos ligados aos idosos tem sido a depressão. Neste caso, o principal tratamento seria a terapia cognitiva comportamental e o tratamento medicamentoso. Mas, as outras abordagens da psicoterapia também podem ser utilizadas, pois não é porque ainda não foram comprovadas que não podem funcionar”, explica o psicólogo Eli Samuel.

Aliados à psicologia, de acordo com o profissional, há práticas interativas complementares que têm se mostrado cada vez mais eficazes. Exemplos dessas são: grupos de yoga, grupos de meditação, grupos de crochê e de artesanato. No geral, podem ser atividades que o idoso tenha prazer em fazer. Além desses tratamentos, ainda é ressaltada a importância de buscar desenvolver um estilo de vida saudável, como um todo.

“Nós aprendemos a escovar os dentes todos dias. É um hábito. E mesmo no pior dia das nossas vidas, escovamos os dentes. Então, essas práticas devem ser incorporadas dessa forma, para quando chegarem os piores momentos de adversidade, o idoso esteja fazendo disso um hábito”, complementa Samuel.

A contribuição da atividade física

Com a idade, a mobilidade também é afetada. Dançar, correr e saltar podem se tornar atividades cada vez mais difíceis de fazer. Além dessas, até mesmo as mais corriqueiras práticas como sentar e agachar podem passar a ser um desafio. Normalmente, o que acarreta essas dificuldades é justamente a falta de estímulos físicos.

“A atividade física é usada como forma de prevenção das dificuldades e das doenças que são acometidas ao longo do tempo. Então, ela tem um papel preventivo para doenças como a hipertensão, diabetes e até para a própria falta de aptidão fisíca que vem com a idade”, aponta o educador físico Thassis Bulhões.

Outra questão importante, é que com o momento pandêmico, muitas pessoas deixaram de se exercitar pelo fechamento de academias e a tensão existente. “Neste período de pandemia, há a possibilidade das aulas remotas. Então, recomendo que os idosos procurem um personal trainer que possa avaliá-los e orientá-los na designação das atividades físicas que têm capacidade de fazer, mesmo em confinamento”, sugere Bulhões.

Independentemente da fase etária, seja na saúde física, psicológica ou social, é necessário buscar manter os cuidados sempre em dia. E, diferentemente do que ainda é muito pensado, envelhecer não é sinônimo de perda. O equilíbrio e a felicidade são possíveis para uma feliz melhor idade.